Research brief

Percepções de desigualdade entre jovens adultos em Moçambique

Diferenças em função do género

Um estudo recente analisa a forma como a desigualdade é percepcionada pelos jovens adultos em Moçambique e como as percepções de desigualdade se correlacionam com diferentes características demográficas, incluindo o género. O estudo centra-se na forma como os jovens moçambicanos vêem as disparidades entre ricos e pobres e porquê. Além disso, relata as conclusões da análise das suas atitudes em relação a diferentes princípios subjacentes às comparações de desigualdade. Aqui, apresentamos as novas conclusões sobre as diferenças baseadas no género.

O estudo conclui que as mulheres jovens em Moçambique tendem a ser mais favoráveis à redução das desigualdades do que os seus homólogos masculinos, com algumas evidências de que elas também têm uma maior propensão para entender a disparidade em termos absolutos, em vez de relativos. Estas conclusões baseiam-se em dados da última ronda do Inquérito Urbano à Juventude MUVA, realizado nas cidades da Beira e de Maputo, em Moçambique, que incluiu um módulo sobre desigualdade.

Resultados

  • Entre os inquiridos, as mulheres jovens concordam mais com a redistribuição de rendimentos em comparação com os seus homólogos masculinos. As mulheres tendem a pensar na desigualdade mais em termos absolutos do que relativos, mas isto depende do contexto apresentado -São necessários mais estudos sobre as diferenças de género nas percepções de desigualdade e atitudes em relação à redistribuição

  • No total, foram 1.193 os inquiridos para o módulo da desigualdade, com idades compreendidas entre os 15 e os 33 anos. Cerca de 54% vivem na Beira e 46% em Maputo, e cerca de 56% dos inquiridos são mulheres. Relativamente ao nível de escolaridade, a maioria dos inquiridos completou alguns anos ou todo o primeiro ciclo do ensino secundário (8.ª a 10.ª classe) ou completou a 11.ª ou ambas as 11.ª e 12.ª classes. Entre os inquiridos, cerca de 67% estão actualmente empregados.

As mulheres tendem a concordar mais com a redistribuição de rendimentos 

De acordo com as respostas ao inquérito, as mulheres tendem a concordar mais com a redistribuição através de impostos e despesas do que os seus homólogos masculinos. 59% dos homens concordam ou concordam totalmente com as transferências de rendimento, em comparação com 71% das mulheres (Figura 1). Este facto também se relaciona com as conclusões da investigação experimental que indicam que as mulheres são mais favoráveis à redistribuição do que os homens (ver Durante, Putterman and van der Weele, 2014) e são mais adversas à desigualdade em variantes do jogo do ditador (ver Andreoni and Vesterlund, 2001; Dickinson and Tiefenthaler, 2002; Selten and Ockenfels, 1998; Dufwenberg and Muren, 2006). A provisão de bens públicos também é mais elevada nas sociedades matrilineares do que nas patrilineares (ver Andersen et al., 2008).


Os homens referem que estão mais frequentemente em contacto com pessoas que são muito mais ricas do que eles, mas não encontramos qualquer diferença estatística entre as respostas dos inquiridos do sexo feminino e masculino em termos de outros aspectos da desigualdade. Por exemplo, a maioria dos inquiridos concorda que as disparidades de rendimento no seu bairro são demasiado grandes e que o governo deveria ajudar mais as pessoas pobres a melhorar o seu nível de vida.

Entendimento absoluto ou relativo da desigualdade

As comparações da desigualdade são proeminentes no discurso sobre o desenvolvimento e nos debates políticos. Estão frequentemente ligadas a argumentos sobre preferências redistributivas e a equidade das decisões de distribuição.Mas dificilmente existe um consenso sobre quais os conceitos de desigualdade que melhor definem e medem as disparidades.As medidas frequentemente utlizadas implicam que se pense na desigualdade em termos relativos, mas as provas sugerem que alguns indivíduos percepcionam a desigualdade em termos absolutos.

Para inferir se os inquiridos pensam na desigualdade em termos relativos ou absolutos, foi-lhes pedido que considerassem diferentes cenários que comparassem as distribuições de rendimento em duas aldeias e que escolhessem a aldeia que considerassem mais igualitária. Com base nas suas respostas, podemos deduzir as suas preferências por medidas relativas ou absolutas de desigualdade.
     
                                 Cenario A)                                  Cenario B)   


Se os inquiridos concordarem com o axioma da invariância da escala, implícito nas medidas relativas, concordam que o aumento proporcional dos rendimentos não altera a desigualdade. Por outro lado, se os inquiridos concordam com o axioma da invariância da tradução, implícito em medidas absolutas, então concordam que a desigualdade permanece a mesma se aumentarmos os rendimentos num montante fixo. Mesmo que estejam a comparar aldeias diferentes, podemos pensar nas respostas em termos de transformações do rendimento.

A Figura 2 mostra os resultados de pedir aos indivíduos que escolham a aldeia que consideram mais igualitária nos dois cenários seguintes:

A. Aldeia A: (1.000 MZN; 10.000 MZN);                              B. Aldeia A: (1.000 MZN; 10.000 MZN);  

    Aldeia B: (2.000 MZN; 20.000 MZN).                                 Aldeia B: (3.000 MZN; 12.000 MZN)

Podemos pensar no cenário a) como uma transformação em que todos os rendimentos são duplicados e no cenário b) como uma transformação em que adicionamos um montante fixo (2.000 MZN) a todos os rendimentos. A Figura 2a indica que os inquiridos do sexo feminino parecem ter uma maior preferência pela resposta consistente com o pensamento absoluto do que os inquiridos do sexo masculino.

De acordo com os resultados de um teste de Wald ajustado, esta diferença é estatisticamente significativa. No entanto, não há diferenças significativas com base no género quando consideramos o cenário b) (Figura 2b) e a ligação entre as respostas e o género também desaparece quando se controla para outras características sociodemográficas numa estimativa probit.

IMPLICAÇÕES 

  • Embora não tenhamos encontrado diferenças generalizadas nas respostas dos inquiridos do sexo feminino e masculino, descobrimos alguns pontos específicos em que o género parece ser um factor relevante. Isto confirma a necessidade de considerar a dimensão de género quando se estuda a desigualdade e a forma como esta é percebida. 
  • São necessários mais estudos sobre as percepções da desigualdade, não só com base em dados de inquéritos, mas também utilizando métodos experimentais para compreender o comportamento individual e as preferências sociais.

Descarregue UNU-WIDER Research Brief aqui

NB. Esta é uma versão traduzida do UNU-WIDER Research brief 2/2023 (em inglês).