Policy brief

Transição para o Mercado de Trabalho dos Estudantes Universitários

Resultados do primeiro inquérito

EVIDÊNCIAS

  • As transições dos finalistas para o mercado de trabalho revelam que a economia Moçambicana tem dificuldade em absorver o capital humano gerado pelo sector do ensino universitário.
  • Até Setembro de 2019, 61% dos finalistas universitários do ano lectivo de 2017 tinham encontrado emprego, destes, 40% conseguiram trabalho imediatamente após a conclusão do curso ou já tinham emprego no seu último ano. Contudo, uma percentagem significativa, 23%, estava desempregada quase dois anos depois de completar o seu curso.
  • Passados pelo menos 18 meses de haverem completado os seus estudos, aproximadamente 30% dos finalistas apenas conseguiu encontrar um ‘mau emprego’, ou seja, em situação de trabalho precário e com um salário relativamente baixo.
  • A maioria dos finalistas encontraram emprego em sectores e tipos de trabalho onde não é evidente que as suas qualificações tenham o maior impacto ou relevância (ou seja, não estão a trabalhar nas suas áreas de estudo).
  • Há disparidades notáveis entre homens e mulheres nas suas experiências de transição para o mercado de trabalho, sendo as mulheres as que enfrentam mais dificuldades relativamente aos seus pares masculinos

Este Policy Brief sumariza as evidências e recomendações resultantes do inquérito à transição ensino-emprego dos estudantes universitários moçambicanos. Até à data, não existia um estudo idêntico. Ao longo de mais de um ano e meio, finalistas universitários foram acompanhados na sua transição para o mercado de trabalho.

Foto: Hưng Hải Bùi

O inquérito seguiu mais de 2.000 estudantes universitários Moçambicanos durante a sua transição para o mercado de trabalho. O inquérito de base foi implementado em 2017 com finalistas em seis das maiores universidades do país, localizadas nas cidades de Beira e Maputo. A partir do início do ano de 2018, até Setembro de 2019, os mesmos participantes foram contactados via telefone pelo menos seis vezes para saber da sua situação económica e laboral.

Depois de terminar os cursos, aproximadamente 40% dos finalistas conseguiram um trabalho de imediato (ou já tinham emprego à espera) e, até a última ronda, 61% alcançaram alguma forma de emprego. Todavia, nosso seguimento dos participantes mostra que, para muitos, a transição para o mercado de trabalho não é um processo fácil.

Nota: Os fluxos a vermelho indicam participantes que transitaram para empregos estáveis entre a primeira e última rondas;  a cinzento indicam aqueles que mantiveram a sua situação económica; a azul representam todos os outros.

Há uma elevada segmentação das transições pós-ensino

O primeiro grupo (~40%) conseguiu obter um `bom emprego’. Estes empregos são principalmente nos ramos de serviços públicos, tecnologia, finanças e construção. Oferecem salários relativamente altos e têm condições contratuais melhores que a média (ex., têm contrato de trabalho permanente). A maioria dos participantes que obtiveram estes empregos estudaram cursos específicos, tais como medicina, as ciências naturais, engenheira e educação. Destes, um número significativo ou já tinha emprego antes de concluir os seus estudos ou encontraram seu emprego logo depois.

O segundo grupo (~30%) apenas conseguiu obter um `mau emprego’, tendo um salário relativamente baixo e condições de trabalho precárias (ex., sem contrato). Muitos destes maus empregos encontram-se no ramo de serviços comerciais (ex., comércio) e são mais ligados a algumas áreas de estudo especificas, tais como letras e humanidades, ciências sociais e agricultura.

O terceiro grupo (~30%) não conseguiu um emprego durável. Na última ronda, 23% dos participantes estavam desempregados e outros 7% estavam fora da força de trabalhado. Ademais, 10% dos estudantes nunca conseguiram emprego e 1 em cada 3 trabalhou por menos de seis meses durante o período de seguimento.

Ao longo do período de seguimento, a qualidade média de trabalho melhorou. Mais participantes obtiveram um emprego fixo e o salário mediano recebido pelos finalistas subiu de 10.000 MZN para 14.000 MZN por mês.

Em termos salariais, os resultados do inquérito mostram que os finalistas que trabalham no sector secundário recebem, em média, os salários mais altos (18.000 MZN / mês). Também neste sector, a disparidade entre os géneros é revertida (ver abaixo) – aqui as mulheres tendem a ganhar mais do que os homens. Os salários dos finalistas é o mais baixo no ramo dos serviços comerciais (10.000 MZN / mês). No entanto, no trabalho mais recente observado, os salários que os finalistas obtiveram eram apenas metade do valor que eles esperavam obter, quando questionados em 2017.

Desigualdade de género na transição para  o emprego

Há disparidades notáveis entre homens e mulheres nas suas experiências de transição para o mercado de trabalho. Menos mulheres finalistas conseguiram um emprego de imediato e as mulheres tiveram que procurar emprego durante mais tempo, mesmo quando comparadas com os seus pares da mesma área de formação. Até a última ronda, o salário mediano dos finalistas por sector era geralmente menor para as mulheres em 2.000 MZN (aproximadamente 15% mais baixo do que para os homens).

Fragilidades económicas e informalidade no recrutamento dificultam a transição
Foto: Oluwakemi Solaja


As oportunidades de emprego provêm principalmente do sector de serviços, mesmo quando este não era o sector no qual os finalistas originalmente desejavam trabalhar. Na última ronda, apenas 12% dos finalistas empregados se encontravam a trabalhar num sector diferente dos serviços (ou seja, em agricultura, indústrias ou construção) e a maioria (55%) trabalhavam em serviços públicos e de capital humano (ex., educação, saúde).

Verificámos que as estratégias de procura de emprego que resultaram em sucesso foram principalmente as informais (ex., contactos pessoais). Canais mais formais (ex., media, jornal) foram, aparentemente, menos eficazes; mas a Internet está a ganhar alguma importância principalmente para participantes com experiência laboral.

Pouco mais de metade dos participantes que encontraram um emprego continuavam a procurar uma outra posição laboral e, nas suas posições actuais de trabalho, apenas metade requer formação a nível de ensino superior. Em geral, acreditamos que isto revela que a economia Moçambicana não está a gerar uma procura suficiente de empregados com curso superior.

Apesar das dificuldades nas suas transições, quase todos os participantes acreditam que valeu a pena ter frequentado o ensino superior e a grande maioria iriam escolher a mesma universidade de novo.


RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS


É necessário aumentar a informação sobre oportunidades de trabalho para finalistas universitários e de reforçar a transparência nos processos de recrutamento, para defesa das próprias empresas, dos finalistas e, especialmente, das mulheres que completam a sua formação universitária.

Deverá ser dada atenção à baixa colocação de formados nos sectores naturais dos seus cursos, especialmente no caso de formados de engenharia nos sectores industriais e, com maior gravidade, dos formados em agricultura nesse sector tão importante para Moçambique.

A qualidade particularmente baixa do tipo de trabalho encontrado pelos finalistas no subsector dos serviços comerciais requer atenção, com enfoque especial no que concerne a elevada prevalência de venda de vagas.