Policy brief

Expectativas de emprego dos estudantes universitários em Moçambique

Resultados de um inquérito de base

EVIDÊNCIAS

  • As respostas obtidas no inquérito de base sugerem que tanto as escolhas de educação como as expectativas de emprego dos estudantes finalistas universitários moçambicanos revelam um desequilíbrio de género em favor dos homens.
  • O sector privado prevalece como o sector de actividade preferidos pela maioria dos estudantes finalistas universitários moçambicanos.
  • Os finalistas universitários moçambicanos confiam que as suas capacidades académicas serão fundamentais para a sua empregabilidade.
  • No entanto, os estudantes admitem falta de conhecimento sobre oportunidades de trabalho e estratégias de procura de emprego.
Foto: Sharon McCutcheon

Até à data, não existe um estudo sistemático da transição dos estudantes universitários para o mercado de trabalho, após terminarem os seus estudos. Este Policy Brief sintetiza os resultados de um inquérito de base destes estudantes universitários, que constituem uma amostra para um inquérito de dados de painel que continuará até final de 2019.

Moçambique enfrenta um importante desafio no que respeita o emprego juvenil. Com uma população jovem e em rápido crescimento, muitos novos trabalhadores entram no mercado de trabalho anualmente. De acordo com estimativas oficiais, a idade média dos moçambicanos em 2018 é apenas de 17,5 anos. Uma componente do desafio do emprego jovem é a transição entre escola e trabalho. Entre aqueles que estão a enfrentar essa transição, os estudantes universitários estão numa posição estratégica. Eles são os recursos humanos mais qualificados a juntar-se ao mercado de trabalho, num país onde apenas 1,2% da população completou estudos superiores. Os estudantes universitários devem estar, simultaneamente, entre aqueles que enfrentam menores barreiras para encontrar emprego e entre aqueles que mais potencial têm de contribuição para o aumento da produtividade nos sectores público e privado. No entanto, até à data, Moçambique carece de um estudo sistemático sobre os sucessos e desafios que os estudantes universitários enfrentam, à medida que transitam para o mercado de trabalho.

Inquirindo sobre a transição da universidade para o emprego

A UNU-WIDER juntou-se ao Centro de Estudos de Economia e Gestão (CEEG) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e o Grupo de Pesquisa sobre Economia do Desenvolvimento (DERG) da Universidade de Copenhaga para implementar o primeiro inquérito à transição entre escola e emprego dos estudantes universitários moçambicanos. Começando em Março de 2017, implementou-se um inquérito de base, estando agora em curso um inquérito telefónico trimestral (cobrindo o período de Março de 2018 a meados de 2019). Uma amostra de 2.174 alunos, finalistas de seis das sete maiores universidades do país, participaram no inquérito de base, o que corresponde a mais de 10% dos todos os alunos finalistas universitários em Moçambique. Um primeiro relatório descritivo dos resultados do inquérito de base está disponível online.

O inquérito de base mapeia as características dos estudantes do último ano da universidade em Moçambique. Destacam-se os seguintes resultados:

  • As estatísticas oficiais do ensino superior revelam já que existe um desequilíbrio de género na população universitária em Moçambique, em favor dos homens. A isto acresce uma segmentação das escolhas de curso, com as Engenharias e Ciências Naturais a apresentar uma população predominantemente masculina, enquanto se verifica uma maior paridade de género em áreas como Educação, Letras, Ciências Sociais, Agricultura e Saúde.
  • Os estudantes indicaram uma relação clara entre a sua área de estudo actual e o sector de actividade preferido, como apresentado na figura 1, abaixo.

  • O sector privado destaca-se como a alternativa de emprego preferida pela maioria dos estudantes finalistas. Uma proporção menor dos estudantes, ainda digna de nota, revela alguma inclinação para se tornarem empresários. Entre estes, notavelmente, um terço daqueles que completaram um curso de engenharia considera o empreendedorismo a opção de emprego mais desejada.
  • Os estudantes do último ano revelam-se confiantes que as suas capacidades académicas serão elementos chave na sua empregabilidade. A maioria dos estudantes esperam empregar-se em menos de 6 meses e o salário médio mensal esperado é de 26.500 Meticais, o que é 2,5 vezes mais do que o mais alto salário mínimo prescrito na lei, encontrado no sector financeiro. O inquérito, no entanto, revela um desconhecimento relativo no que respeita oportunidades de emprego e estratégias eficazes de procura de emprego.
  • Finalmente, e de modo muito notório, as respostas dadas pelos estudantes sobre expectativas de emprego futuro (ex. salário) indicam que as mulheres esperam alcançar ganhos menores do mercado de trabalho comparativamente aos homens. Em média, as mulheres antecipam salários de entrada e ao fim de um ano de trabalho inferiores (em alguns milhares de meticais) aos que os seus colegas esperam, incluindo aqueles que completaram estudos na mesma área.

Aprender mais para melhor informar

Os resultados do inquérito reforçam a nossa motivação para buscar e fornecer informação sobre o mercado de trabalho aos estudantes universitários. Existem evidências claras de que os estudantes necessitam saber melhor sobre o que os espera à saída da universidade.

Os nossos resultados preliminares recomendam que seja dirigida atenção, tanto da pesquisa como das políticas, para a natureza e causa das menores expectativas salariais por parte das mulheres. Isto sugere uma distorção do mercado de trabalho que deve ser corrigida, de modo a que todas as pessoas possam prosseguir carreiras que se enquadram nas suas capacidades e sejam remuneradas de acordo com a sua contribuição, promovendo desse modo o crescimento da economia moçambicana.

A igualdade de género, embora fortemente observada na educação primária em Moçambique, começa a fragilizar-se no ensino secundário e surge severamente enfraquecida no ensino superior (especialmente em determinados cursos). Esta situação necessita de uma resposta. Um possível caminho pode passar pelo desenvolvimento de programas de bolsas para as estudantes que promovam a inscrição de mulheres nas áreas de estudo sub-representadas (discriminação positiva).

Foto: Tamarcus Brown

RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS 


Informação sobre o mercado de trabalho deverá ser desenvolvida e fornecida aos estudantes universitários.

Deverá ser dirigida a atenção, tanto da pesquisa como das políticas, às causas das expectativas salariais mais baixas por parte das mulheres.

Ameaças à igualdade de género na educação merecem uma resposta. Uma opção é promover o ingresso de mulheres em áreas de estudo sub-representadas, através de uma discriminação positiva.

Descarregar Policy Brief 3/2018