Policy brief

Força de trabalho e características da liderança da Indústria Manufactureira Moçambicana

EVIDÊNCIAS

  • Empresas que sobreviveram a desaceleração económica adoptaram uma gestão de recursos humanos restritiva, reduzindo a força de trabalho e fazendo-a mais flexível, que, em consequência, tornaram o emprego mais vulnerável.
  • Em 2017, a liderança do sector manufactureiro parece, simultaneamente, mais satisfeita e inclinada a apoiar a formação dos seus trabalhadores.
  • Os empresários revelam uma significativa aversão ao risco, o que irá restringir a sua capacidade de investir, tanto em capital físico como humano.

O Inquérito às Indústrias Manufactureiras 2017 baseia-se nos dados recolhidos no Inquérito às Indústrias Manufactureiras 2012 para empresas sobreviventes, fazendo o seguimento de como a alteração das condições económicas afectou o desenvolvimento das empresas durante os cinco anos que, entretanto, decorreram. O inquérito oferece também uma visão aprofundada do factor humano que assume um papel chave na performance das empresas: força de trabalho e características da liderança.

Photo: Eric Miller/ World BankQuando a ronda anterior do Inquérito às Indústrias Manufactureiras Moçambicanas foi implementada em 2012, a economia de Moçambique revelava sinais positivos de um crescimento estável e consistente. Cinco anos passados, o país enfrenta dificuldades económicas. Com a crise de crédito em curso e reservas de divisa muito pouco profundas, Moçambique viu a sua moeda desvalorizar-se de modo significativo e as empresas viram os seus mercados estreitarem-se. Aquelas que ainda operam em 2017 tiveram que depender da sua liderança e das decisões de gestão de recursos humanos para sobreviver.

Os resultados do inquérito de 2017 fornecem importantes perspectivas sobre as características da liderança das empresas manufactureiras, sobre o modo como proprietários e gestores olham a força de trabalho das suas empresas, e as suas reacções ao exigente ambiente económico.

Sendo mais educada que a média, a liderança das empresas é também altamente adversa ao risco

De acordo com os resultados do inquérito de 2017, verificam-se algumas mudanças na liderança das empresas moçambicanas.

  • A proporção de empresas lideradas por mulheres aumentou, de 5 por cento em 2012 para 12 por cento em 2017. Tal ocorreu tanto através de sucessão de lideranças nas empresas que sobreviveram como devido a uma relativa maior robustez das empresas lideradas por mulheres à desaceleração económica de 2015-16. No entanto, a proporção de empresas lideradas por mulheres mantém-se muito longe da metade.
  • Proprietários e gestores de empresas moçambicanas demonstram níveis reduzidos de confiança em outras pessoas e uma muito elevada aversão ao risco, com proprietários de microempresas a revelar níveis extremos da última. Estas características manifestam-se nas suas decisões de mercado e de gestão. Proprietários e gestores têm pouca propensão para oferecer crédito comercial a parceiros de negócio, reduzindo a escala do que é uma janela de oportunidade normal para empresas, na gestão das suas tesourarias. Em contrapartida, demonstram igualmente uma falta de interesse em contrair dívida, algo que é um requerimento para empresas que buscam crescer.
  • Em geral, os proprietários e gestores de empresas manufactureiras em Moçambique aparentam possuir níveis de educação superiores à média, com quase todos os entrevistados a possuir alguma escolarização. Aproximadamente 40 por cento completou um dos ciclos do secundário (ESG1 ou ESG2), e aproximadamente um em sete (14 por cento) possuía um grau universitário. É interessante notar que aqueles que completaram educação superior aparentaram uma maior probabilidade de possuir uma microempresa do que de gerir uma empresa de maior dimensão.
  • A pertença a partidos políticos não parece ser um factor significativo para a performance das empresas. Outros factores, como a dimensão da empresa, o grau de formalidade, e, mais relevantes, o nível de educação da liderança e a sua capacidade de gerir riscos, correlacionam-se de modo significativo com níveis mais elevados de produtividade do trabalho.

Liderança das empresas optou por uma redução e flexibilização da força de trabalho quando confrontada com as dificuldades económicas

Os resultados do inquérito revelam também um nível generalizado de satisfação, por parte dos proprietários, com a sua força de trabalho, apesar de um movimento no sentido da flexibilização contratual.

  • Em geral, os empresários aparentam estar bastante satisfeitos com a sua força de trabalho. Mais de dois terços dos entrevistados afirmaram que a qualidade da força de trabalho local satisfazia as necessidades das suas empresas. Apenas 5 por cento declararam que a força de trabalho não satisfazia essas necessidades, em geral ou em absoluto.
  • A proporção de empresas que providenciam formação para os seus trabalhadores aumentou de 9 por cento em 2012 para perto de 21 por cento em 2016. Este é um aumento significativo do investimento nas capacidades dos trabalhadores.
  • Em conjugação com uma redução, em geral, do número de trabalhadores, as empresas manufactureiras reagiram à desaceleração económica através de contratos mais flexíveis e precários com os trabalhadores. A proporção de trabalhadores temporários aumentou mais de 1 por cento entre 2011 e 2017, de 8.7 para 9.8 por cento, e a proporção de trabalhadores casuais mais do que duplicou, de 6.4 para 13 por cento, durante o mesmo período.

Menos trabalhadores e contratos mais vulneráveis

As indústrias manufactureiras moçambicanas adaptaram-se às dificuldades, originando novos desafios para o Governo

Empresas que sobreviveram a desaceleração económica conseguiram ajustar, principalmente através de uma gestão restritiva dos recursos humanos que reduziu a forma de trabalho e tornou-a mais flexível, mas também mais vulnerável. Decisões de gestão informadas foram tomadas pela liderança das industrias manufactureiras. Estas escolhas revelam novos desafios para o Governo. Enquanto a flexibilidade é necessária, recomenda-se que o Governo preste atenção aos novos riscos socioeconómicos que os trabalhadores moçambicanos enfrentam neste novo ambiente económico. Os limites legais devem ser mantidos e uma atenção especial deve ser dedicada ao sector informal.

Há significativos sinais positivos. A liderança do sector manufactureiro aparenta simultaneamente estar mais satisfeita e mais inclinada a apoiar a formação dos trabalhadores em 2017 do que era o caso em 2012. A formação contínua no local de trabalho e a construção de capacidades técnicas e organizacionais dos trabalhadores é uma área onde Governo e Indústria Manufactureira partilham objectivos comuns e onde o Governo deve continuar a investir directamente.

No entanto, empresários revelam uma significativa aversão ao risco, o que irá contrariar a sua vontade de investir, tanto no capital físico como no humano. O Governo tem aqui um papel particularmente relevante. No cumprimento dos objectivos declarados do Governo e as resoluções do Parlamento, o Estado Moçambicano deve assegurar que as políticas e regulamentos são efectiva e transparentemente aplicadas pelos funcionários públicos, promovendo uma relação forte e previsível entre empresas e as autoridades estatais.

IMPLICAÇÕES

  • O Governo de Moçambique deve estar atento aos novos riscos enfrentados pelos trabalhadores moçambicanos, à luz da adopção de formas mais flexíveis e vulneráveis de contratação laboral pro parte das lideranças das empresas. Os limites legais devem ser mantidos.
  • O Governo deve continuar a dirigir o seu investimento para a formação profissional e a construção de capacidades técnicas e organizacionais dos trabalhadores.
  • O Estado Moçambicano deve assegurar que políticas e regulação são aplicadas de modo eficaz e transparente por funcionários públicos, promovendo uma relação forte e previsível entre empresas e autoridades estatais.

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